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Os jovens e as “letras” do carnaval

No final da tarde de ontem (dia 21/02), estava eu sentado na varanda do quintal da minha casa lendo o livro “Fluxo e Refluxo”, do etnólogo e fotógrafo francês-baiano Pierre Verger e alguém toca a campainha. Interrompi minha leitura, como se não existisse essa folia maluca do carnaval, e fui atendê-lo.
Me certifiquei ser um jovem de uns 25 a 30 anos da vizinhança que me pedia umas canas que tenho em minha área e, prontamente, convidei-o para entrar. Ficou perguntando algumas coisas sobre as esculturas de cipó que fiz nas minhas horas vagas. O Espaço Cultural A Estrada lhe chamou a atenção e logo indagou se se tratava de uma instituição de ensino.
Fui respondendo as coisas, mas senti sua falta de conhecimento e cultura quando insinuou ali ser também um terreiro de candomblé. Para não estender a conversa, chamei-o para entrar em nosso acervo cultural onde realizamos nossos saraus. Fui mostrando os livros, as fotos, chapéus, artesanatos e demais itens da nossa sagrada biblioteca.
Percebi que não se encantou com o que viu diante das perguntas meio que ingênuas que fazia. Me esforcei para detalhar o que significava aquele espaço como recinto cultural. Olhava os livros meio que assustado e num repente me interrogou se eu era de esquerda.
Confesso que fiquei surpreso e atordoado com aquela indagação tão inusitada fora de tempo, se ele nem conhecia minhas ideias. Será que já nasci com cara de esquerda e comunista porque ele ainda quis saber qual minha religião? O que o cara entende por ideologia de direita, centro e esquerda?
Sabe daquilo sobre certas perguntas de criança que você fica meio que engasgado para responder? Tentei resumi um pouco sobre essa questão de ideologia, mas vi que não entendeu nada. Passei a outro ponto e mostrei os livros de minha autoria. Como o senhor faz isso? É o senhor mesmo?
Novamente pulei o assunto e citei alguns nomes famosos da nossa música brasileira, do cinema e da literatura, inclusive da nossa terra, mas o moço jovem afirmou desconhecê-los e ignorá-los completamente.
Isso não me causou tanto espanto. Com certeza saberia descrever detalhadamente se falasse em “Safadão”, Leo Santana, Bel Marques, Claudia Leite, Ivete Sangalo, Marília Mendonça e esses “sertanejos” da vida do mundo comercial das “músicas e letras” de lixos rebolados.
Matutei comigo mesmo, com poucas exceções, sobre o baixo nível educacional e cultural dos nossos jovens desse nosso Brasil varonil. O jovem saiu sem nada entender do que viu. Por mais simples que fui nas palavras, para ele eu estava ali falando uma língua estrangeira.
AS “LETRAS” HORROROSAS DO CARNAVAL
Meu sentimento de perda desses jovens na área do conhecimento e da cultura baixou mais ainda meu sistema imunológico espiritual quando recebi um vídeo desse aparelho que deixou as pessoas ainda mais fúteis. Não consegui mais me concentrar em minha leitura. Hora dos meus exercícios físicos.
“E as Músicas desse Carnaval? Tem gente que senta pra beber. Aqui nós bebe pra sentar” – apontava na tela o título do vídeo. Na voz de revolta de uma mulher, não identificável, ela indaga que festival de merda é esse que assaltou nossos tímpanos em pleno período carnavalesco? Aliás por muito tempo somos assaltados por músicas ruins, mas agora a privada transbordou.
Comecemos pelo atual pornopagode – alterava a voz com um tom de ira, e foi citando trechos horrorosos das “letras”. “Deixa eu botar meu boneco”. “Bote na panela e está aí o sucesso da desgraça. Viva a pátria educadora Brasil! No meio de tanto bagulho, não espante que a chiclete zona de perigo venha a ser o sucesso do carnaval! Tudo revela a total falta de vocabulário. Morais Moreira, o homenageado, deve estar se revirando no túmulo. Essa plateia imbecilizada reflete os piores anos de títulos de pior educação que amargamos no país”- desabafa a dona do vídeo.
“Vem mete com força no boquete”. “Ela fica de quatro”. “Bota nela, mete seu Cachorro”. “Deixa eu botar meu boneco”. “Coloca nela”. “E você suporta essa métrica de merda. “Cerveja me fode”. Músicas vagabundas – disse.
E por aí vai esse monte de baboseiras das quais chamam isso de música, inclusive na boca dessa mídia comercial que só mostra os trios e os rebolados. Para essa mídia, tudo é maravilha na festa orgástica do deus baco. Não me venham com essa de moralismo!
Se você falar em proibição, vão logo dizer que isso é ditadura e censura. Isso não é liberdade de expressão, tanto quanto pregar o nazismo, o racismo, a homofobia e uma intervenção militar no país. Podemos definir todo esse caldeirão fedorento como degradação total da nossa cultura, da nossas músicas e letras.