Dinheiro da Cultura voltou a Brasília

Carlos Albán González
“Time que está ganhando não se mexe”, frase incansavelmente repetida pelos fãs do futebol no Brasil. Esta espécie de conselho aos treinadores ,poderia muito bem ser aplicado na administração pública, o que só acontece quando, a cada eleição, os “mesmos” se mantêm nos cargos. É o caso, por exemplo, de Vitória da Conquista, onde Sheila Lemos (União Brasil) vai liderar sua equipe por mais quatro anos.
Numa tensa e vitoriosa batalha final, disputada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Sheila se valeu de sua força máxima, integrada por 13 advogados (13, e não 12, como se referiu a nobre gestora, ao mencionar o tempo de permanência de sua mãe, Irma Lemos, à frente do município). Quem não sabe: o número que acompanhou a carreira vitoriosa do saudoso Zagallo (tricampeão mundial Jorge Lobo Zagallo), e que identifica o Partido dos Trabalhadores (PT), é impronunciável pelos bolsonaristas.
Sob o manto do bolsonarismo e levada pela onda ultraconservadora que varreu a esquerda no último pleito, a família Lemos deu início em 1º de janeiro a um terceiro mandato em Conquista. Entre junho e dezembro de 2024, Sheila exonerou os secretários Lucas Dias (Mobilidade Urbana) e Vinicius Rodrigues (Saúde), investigados, respectivamente, pelas operações Overclean e Drapout, criadas pela Polícia Federal (PF). Eles teriam se utilizado de suas funções para cometer graves irregularidades, inclusive desvio de recursos que a Saúde deveria empregar em ações contra a Covid-19.
No final do ano passado, pressionada pela oposição, a Mesa da Câmara Municipal instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar a destinação de recursos públicos na Secretaria de Saúde. Como já se previa, dada a interação entre executivo e legislativo, nada de irregular foi encontrado, contrariando parecer técnico da PF.
Estávamos falando da formação do secretariado municipal, e o que mais chama atenção é que a gestora voltou a insistir no erro de reunir, numa só pasta, a cultura, o esporte, o lazer e o turismo. Em sã consciência, é impossível uma só pessoa, no momento o Eugênio Avelino (Xangai), cuidar de quatro importantes e heterogêneos segmentos da administração pública. No primeiro mandato da Sheila o conquistense ficou privado da cultura, do esporte, do lazer e do turismo.
Para não ficar completamente imobilizada, a cultura em Conquista tem se valido do espírito abnegado de pessoas e de entidades privadas, além do governo estadual, que patrocina a Orquestra Neojibá. Uma dessas entidades, o Sarau Cultural A Estrada, em funcionamento há 15 anos numa residência do bairro Felícia, tem conseguido preservar o passado e o presente, sem nenhum apoio oficial, das manifestações culturais desta terra.
Pergunto: qual a reação do leitor ao saber que a prefeitura, por negligência, perdeu 330 mil reais dos 2,72 milhões de reais, provenientes da Lei Paulo Gustavo do governo federal. O dinheiro foi devolvido aos cofres da União por falta de uso no prazo determinado pelo Ministério da Cultura.
A minha incredulidade deve ter sido a mesma do jornalista e escritor Jeremias Macário, um dos pais do Sarau A Estrada. Os recursos deveriam ser empregados na recuperação do Cine Madrigal, uma antiga reivindicação da população pobre conquistense, que não tem condições financeiras para pagar uma entrada nas salas de projeção dos Multiplex, implantados nos shoppings. Essa é a importância que o poder municipal dá à Cultura, priorizando os shows de música de péssima qualidade.
A prefeitura local não está relacionada entre os patrocinadores do Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista, o que habitualmente ocorre em centenas de municípios do país, como, por exemplo, Porto Seguro. Fundado em janeiro de 2005, o “Bode” vem colecionando derrotas. Há cinco anos está na segunda divisão do futebol baiano, com direito apenas a jogar três meses por ano.
O torcedor local desde 2015 não assiste no Estádio Lomanto Júnior uma das equipes, com exceção de Bahia e Vitória, da série “A” do Brasileirão. A última foi o Palmeiras, aumentando o número de torcedores rubro-negros, de olho na estrada, na esperança de poder dar as boas-vindas ao Flamengo. Urubu, por aqui, só os que infernizam os moradores do bairro Felícia.
Em resumo: esse é o cenário do esporte na cidade. Eu poderia acrescentar as peladas da Várzea, onde jogava Ednaldo Rodrigues, atual presidente da CBF, o ciclismo e as corridas de rua.
Fazer de Conquista uma cidade turística é sonho. Cristo, lá do alto da Serra do Piriperi, espera há décadas que as autoridades municipais transformem o local num atrativo balneário, não num “cacete armado”, como as instalações na margem da represa de Anagé.
Depois de uma ausência de quatro anos, a Exposição Agropecuária de Vitória da Conquista voltou no ano passado a abrir os portões do Parque Teopompo de Andrade. Os organizadores tiveram o apoio da prefeita Sheila Lemos, que estava em busca de votos para sua reeleição.
O empresário Clinton Teixeira, ligado aos setores de turismo e entretenimento, esteve há poucos dias percorrendo, num domingo, alguns pontos da cidade, onde observou um clima de velório, com movimento apenas nos barzinhos. Imediatamente, por achar o lugar propício, em virtude da falta de equipamentos para o lazer de adultos e crianças, veio-lhe a ideia de construir um complexo para a prática de atividades prazerosas. A inauguração da primeira etapa, que prevê a implantação de uma piscina de ondas, com capacidade para receber 10 mil pessoas, está prevista para o primeiro semestre de 2026. Acredita Teixeira que o Vickpark vai dinamizar o turismo na região. Os adeptos do surfe já podem adquirir suas pranchas.