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São João: da alegria à insegurança
* Por Davino Nascimento
As festividades de São João, tradicionalmente marcadas pela confraternização e celebração, revelaram um cenário preocupante no bairro Jardim Guanabara. Em vez da esperada alegria, os moradores enfrentaram uma noite de terror, com explosões de fogos de artifício, invasão e roubo, deixando uma família em estado de pânico e insegurança.
A dimensão sócio-histórica e cultural das festividades juninas
As festividades de São Antônio (13/06) São João (24/06) e São Pedro (29/06) constituem uma rica e centenária tradição cultural no Brasil, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste. Desde os tempos coloniais, essas celebrações marcam o início do período junino, com suas raízes firmadas na religiosidade católica, nos costumes indígenas e nas influências africanas.
Ao longo dos séculos, esses festejos populares se consolidaram como uma das mais expressivas manifestações da identidade cultural brasileira, extrapolando os limites da devoção religiosa. O forró, as comidas típicas, as bebidas e as danças folclóricas se tornaram símbolos indeléveis dessa época do ano, unindo diferentes classes sociais em torno de uma mesma celebração.
Nas noites frias de junho, as ruas e praças enchem-se de alegria e cores das bandeirolas, com a música contagiante dos forrós, a saborosa culinária junina e as brincadeiras tradicionais como pau-de-sebo, corrida de saco, quebra-pote e os concursos de quadrilha. Essa atmosfera de confraternização e celebração da vida sempre esteve presente nos festejos, até mesmo nos períodos mais sombrios da história do país.
Infelizmente, o cenário preocupante enfrentado pelos moradores do bairro Jardim Guanabara revela uma triste realidade: a violência e a falta de respeito têm se sobreposto à essência dessas festividades, deixando marcas de insegurança e pânico onde antes havia apenas alegria. É imperativo que retomemos os valores e as tradições que dão significado a esses festejos, resgatando o sentido de comunidade e o respeito mútuo que sempre os caracterizaram.
As bombas e fogos de artifício, lançados sem consideração pelo bem-estar alheio, balançaram a casa do Professor Davino Nascimento. Dentro, o velho Golden Retriever, o cachorro chamado Romeu, tremia de medo, e o filho caçula, Guilherme, não conseguia dormir, assustado com as explosões. A tentativa de amenizar o som com a televisão foi insuficiente, e a cobertura jornalística sobre os horrores cometidos pelo exército de Israel apenas adicionou tensão ao ambiente.
Além do terror dos fogos, a madrugada trouxe um novo susto. Um ladrão pulou da casa do Prof. Davino Nascimento, possivelmente pelo muro de uma casa vizinha, disparando todos os alarmes e deixando Romeu ainda mais desorientado. O invasor, em uma tentativa desesperada de desativar o sistema, fez mais barulho, culminando em uma confrontação com o Professor Davino que acionou o código de pânico do alarme.
A resposta das autoridades não tardou, com a chegada de motos da empresa de segurança privada e da polícia militar. Embora tenha sido registrado um Boletim de Ocorrência (BO), a ação rápida não impediu o sentimento de insegurança e impotência que ficou na família.
Este episódio revela uma triste realidade: as festividades de São João, que deveriam ser celebradas com alegria e confraternização, transformaram-se em um retrato da falta de respeito e da insegurança que assola nossas comunidades. As explosões de fogos, que deveriam simbolizar a alegria, trouxeram medo e insônia, enquanto a invasão e o roubo destacaram a vulnerabilidade dos cidadãos, mesmo dentro de suas próprias casas.
É urgente que repensemos nossas celebrações e a maneira como nos comportamos em comunidade. A segurança pública e o respeito ao próximo devem ser prioridades, para que noites como a vivida pela família Nascimento não se tornem comuns em nossas festividades. Só assim poderemos garantir que as alegrias do São João prevaleçam sobre o medo e a insegurança.
Convocando a mudança
As celebrações de São João não podem continuar a ser manchadas por cenas de pânico e insegurança. É hora de a sociedade repensar a forma como celebramos esta tão querida festa junina.
Não podemos ignorar os danos causados pelos estrondos dos fogos de artifício, que vão muito além do desconforto momentâneo. Esses barulhos intensos aterrorizam animais domésticos, crianças com autismo e pessoas em condições de adoecimento ou fragilidade, como os idosos. Imagine o sofrimento de um cãozinho fiel, como Romeu, tremendo de medo a cada explosão, ou de uma criança autista como Guilherme acordada no meio da noite, chorando apavorada.
É preciso que repensemos nossas tradições e encontremos formas de celebrar o São João que respeitem a segurança e o bem-estar de todos os membros da comunidade. Talvez a solução esteja em substituir os fogos por apresentações culturais, música ao vivo e atividades familiares. Ou então, estabelecer regulamentações rígidas sobre o uso de fogos, limitando-os a áreas específicas e em horários controlados.
Cabe a cada um de nós dar o primeiro passo rumo a uma celebração mais responsável e inclusiva. Somente assim poderemos garantir que o espírito de alegria e confraternização da festa junina prevaleça, resgatando a magia do São João e deixando para trás os pesadelos de insegurança. É hora de resgatar a verdadeira essência desta celebração tão querida.