Advogada é dirigente de OSCIP de parente de presos
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O País, p. 11
Iracema Vasciaveo acompanhou representantes do governo em reunião com chefes criminosos; entidade teria 15 mil filiados
SÃO PAULO. A advogada Iracema Vasciaveo, que acompanhou representantes do governo paulista numa conversa com oito chefes do crime organizado no Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes, domingo, é oficialmente diretora do Departamento Jurídico da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Nova Ordem.
A entidade, cuja denominação formal é Associação dos Familiares dos Reeducandos do Estado de São Paulo, congrega 15 mil parentes de presos, tem certificado do Ministério da Justiça desde outubro de 2005 e quer se credenciar a receber verbas públicas para trabalhos sociais com presidiários.
Presidente da Oscip é ex-investigador e ex-presidiário
A entidade está legalmente apta a prestar serviços ao poder público sem licitação, já que tem o certificado número 08071.00067/2005 do Ministério da Justiça. Além disso, pode captar recursos junto a empresas privadas com base na Lei Rouanet para atividades culturais. Os empresários que colaborarem poderão deduzir os valores do Imposto de Renda.
O presidente da Nova Ordem é o ex-investigador de polícia e ex-presidiário Ivan Raymond Barbosa. Ele ficou nacionalmente conhecido em 2004, quando recebeu ordem de prisão do deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP) durante uma sessão da CPI da Pirataria.
Preso na cadeia de Avaré, Barbosa passou cinco meses numa solitária depois de ter sido enquadrado no regime de disciplina diferenciado (RDD). Ele foi acusado de ameaçar de morte uma testemunha de acusação. Em 2005, ele e outros quatro policiais acusados de participação na máfia da pirataria foram absolvidos pela Justiça. Solto, Barbosa estudou a legislação e decidiu fundar a Oscip Nova Ordem.
¿ Estamos legalmente credenciados e estamos elaborando projetos para enviar ao Ministério da Saúde. Além disso, estamos começando a captar recursos com base na Lei Rouanet para projetos culturais ¿ disse ele.
Barbosa nega ter tido contato com facção criminosa
Segundo Barbosa, a entidade sobrevive de doações de empresários amigos:
¿ Não cobramos dos familiares de presos porque sabemos as dificuldades que eles enfrentam. Além disso, não podemos em hipótese alguma receber dinheiro de origem suspeita. Nossas contas são fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União.
Barbosa nega que no período em que esteve na cadeia tenha tido contato com integrantes de facções criminosas:
¿ Meu advogado me orientou a não deixar minha cela. Até porque como ex-policial poderia cruzar alguma pessoa que mandei para a prisão.
No material de divulgação, a Nova Ordem alerta que as formas encontradas pelos presos para reivindicar seus pedidos são rebeliões, aumento incontrolável da criminalidade e formas de chamar a atenção.