Trabalhadores negros anteciparam imigrantes na luta trabalhista no Brasil


Quando operários nos Estados Unidos organizaram os protestos em defesa da jornada de oito horas diárias no início de maio de 1886, o Brasil era palco de lutas complexas que articulavam trabalhadores livres, libertos e escravizados. Por meio delas, abolicionismos, no plural, ganhavam corpo e sustentação, bem como orientavam a formação de partidos políticos e agremiações operárias que alcançariam o período do pós-abolição. Essa é uma das histórias que gosto de contar no mês de maio para ajudar a lembrar que, em sociedades fundadas na escravidão, classe nunca esteve dissociada de raça.
A liberdade formal já era um fato na vida da maioria de homens e mulheres negras brasileiras da segunda metade do século 19, mas no geral era bastante precária. Com frequência bem maior do que nos acostumamos a supor, jornais noticiavam episódios de pessoas pretas e pardas sendo constrangidas em seus direitos de trabalhadores livres por indivíduos que buscavam fixá-las nos limites da escravidão. O barulho criado em torno de abusos como esse mobilizava gente o bastante para resultar em desfechos positivos.