Brasil do caos absurdo desumano

Para quem tem sentimentos e consciência política de espiritualizar os constrangimentos absurdos de um Brasil tão paradoxal e desumano, às vezes nosso ser fica despedaçado e aniquilado como uma barata de Kafka, nauseado existencialista como “Náuseas” de Jean Paul Sartre, melancólico e nulo como Dostoievski, deprimido e banzo como Schopenhauer e enigmático filosófico de Nietzsche, onde do caos pode nascer a luz.
Estamos vivendo nesse caos absurdo de mais de 30 milhões de pessoas passando fome num país grande exportador de grãos (um dos maiores), cujos produtores só estão de olho no dólar. É uma mentira de que esta nação alimenta um bilhão de humanos no planeta (grande parte serve de ração para os animais) e, se isso fosse verdade, nem deveria ser dito diante de tanta miséria em nossa casa.
Quando Nietzsche escreveu “Humano, Demasiado Humano”, no século XIX, não foi compreendido. Sobre o homem, disse ser o criador dos valores, mas esquece sua própria criação… Em nosso país, especificamente, esses valores foram totalmente banidos, invertidos e entraram em degradação. No sobe e desce dessa gangorra banal, batem a depressão e o pessimismo de Schopenhauer.
Em quem acreditar? Nos deuses ou nos demônios? No Cristo ou nos Anticristos? Eles se misturam e se disfarçam nessa multidão amorfa. Sabem que não existe a crítica para analisar os fatos. As propagandas, inclusive agora pré-eleitoreiras, são praticamente todas falsas, e nem a linguagem demagógica cheia de clichês dão ao trabalho de mudar, de dar uma nova roupagem. Para que, se a massa continua cada vez mais inculta e ignorante!
Não importa se a Amazônia pega fogo, se o clima está mais para tragédias, se a violência brutal não mais choca os indivíduos, se o racismo e a homofobia matam, se o satanás cria seu próprio conceito de liberdade, democracia, família e pátria e se a impunidade foi institucionalizada e oficializada pelo Estado. O que mais conta é não se preocupar com essas coisas. Cada um que se vire e quem fala é porque é uma ranzinza ultrapassado. A polícia age para torturar e matar. Mala de viatura se transformou em câmara de gás.
Aqueles com maior poder aquisitivo estão mais para idolatrar o deus do consumir, para preencher o vazio oco existencial da vida e dizer que é tudo felicidade. A grande mídia está aí para dar seu empurrão de deformar, bajular, induzir, estimular e fazer a lavagem cerebral do “compre logo seu presente”, senão será um pária da sociedade. Embaralha os papéis, em função do senhor supremo do capital. Ela também nos confunde e, muitas vezes, é uma cordeira na pele de loba.
Será que desse caos pode nascer a luz? Desses absurdos desumanos e paradoxais podem vir a lógica? É o que se espera. Ora, a gênese não brotou de um caos! Só que tudo que saiu de ruim da caixa de pandora continua a prosperar no mortal humano em detrimento do bem e do coletivo social.
A sociedade está inerte, paralisada e hipnotizada. Nada mais lhe move em direção da indignação. Todos se calam e cada um procura seguir seu rumo sem olhar para trás, com medo de virar estátua de sal. Para essa população entorpecida, tanto faz a democracia como a ditadura. É um debate inútil, coisa de um punhado de extremistas nazifascistas. O que interessa mesmo é manter seu emprego escravo.
Quem tem mais um pouco de grana, faz mesmo é questão de ser um otário consumidor que sai nos shoppings distribuindo cartões e pix. Essa categoria nem tem mais domínio de si. Não passam de teleguiados das propagandas e da mídia, porta-voz dos lojistas. Pensar e contestar são especialidades em extinção. Não existe mais tempo para isso. Aliás, é coisa de poeta desocupado.
Viver no caos social tornou-se prática normal. O certo mesmo é aprender a conviver com as injustiças; saber lidar com essa máquina infernal das leis da competição e onde clicar certo no passo a passo; destrinchar os nós da burocracia; e aprender a ser astuto e sagaz para passar a rasteira no outro. Você já ouviu esse papo de quem não estiver adaptado ao mercado vai ficar para trás e perecer? O saber e o conhecer humano são coisas superados.