Eleições sujas
Dentro de poucos dias o Brasil assistirá a mais suja das eleições nesses 123 anos de República. A produção de toneladas de detritos perigosos está concentrada no Palácio do Planalto, distribuídas por todo o país, em forma de mentiras, através das redes sociais, nos pronunciamentos do candidato Jair Bolsonaro e até mesmo na propaganda eleitoral grátis no rádio e na TV.
O número dos condenáveis “fake news”, como calculou meu colega e amigo o jornalista Jeremias Macário, daria para preencher mil páginas de um livro. Além da enxurrada de mentiras, que o TSE não consegue coibir, o aterro sanitário do Planalto e os seguidores fanáticos do militar expulso do Exército, há todos os tipos de material virulento, impingidos às pessoas sem consciência política.
A pressão ao trabalhador, principalmente na zona rural – no oeste baiano há dezenas de denúncias – não é uma prática, na verdade, dos dias atuais. No tempo dos “coronéis”, o “voto de cabresto” era exercitado livremente – o jagunço levava o homem do arado e da enxada até a cabine “indevassável”. Contou-me uma funcionária aposentada do TRE-BA que as urnas chegavam do interior com os votos “enxertados”, ou seja, fraudados .
O município de Casa Nova, no Médio São Francisco, a 572 kms de Salvador, é um típico exemplo do coronelismo praticado no Nordeste até a ditadura militar (1964-1985). Nas eleições, o candidato do chefe político local recebia 100 por cento dos votos. Certo dia, achou-se um voto contra. Foi decretada caça ao “traidor”.
“Demitam, sem dó nem piedade, quem votar em Lula”. A sentença foi transmitida por uma produtora rural da região de Barreiras, dirigida aos empregadores do agronegócio, que estão orientando seus trabalhadores a esconder o celular no sutiã, calcinha ou cueca, contando, evidentemente, com a ausência de fiscalização de alguns mesários, que no 1º turno não cumpriram o Manual distribuído pelos TREs. Esse crime eleitoral pode também ser coibido pelos partidos que apoiam o candidato de oposição, designando um fiscal para cada seção.
Estão enganados os que pensam que o bolsonarismo acabará com a derrota no domingo do pior presidente que o Brasil conheceu. Assim como os partidários do nazismo, do fascismo, do franquismo e do comunismo modelo soviético, estão espalhados pelo mundo, o bolsonarista, apoiado pelos fanáticos evangélicos, vão continuar exibindo seus arsenais, como fez o ex-deputado Roberto Jefferson. Alguns deles vão se juntar a partir de fevereiro aos membros do Centrão nas casas legislativas.
O bolsonarista sempre existiu, mas se mantinha no anonimato com receio de mostrar as garras. Faltava-lhe um líder, que saiu do baixo clero do Congresso, onde ficou por 27 anos ganhando sem trabalhar. Como estamos num regime democrático, naturalmente, há uma grande parcela do eleitorado que se declara antipetista e que gostaria que não houvesse polarização nessas eleições.
Homofóbico, racista, misógino, violento, odiento. Este é o perfil do bolsonarista, que vem há quatro anos se alimentando dos ideais do seu “mito” com relação ao Nordeste, à destruição das florestas, ao combate às doenças, ao corte nas verbas da educação e saúde, à compra de votos através do orçamento secreto, às agressões físicas aos jornalistas; à destruição de símbolos católicos e umbandistas, à exaltação à ditadura e aos seus torturadores.
Bolsonaro e seus seguidores têm se notabilizado em atacar chefes de governo. A última investida foi contra o papa Francisco, que se referiu à fome no mundo como “um escândalo e um crime contra os direitos humanos”. Os neonazistas brasileiros reagiram, chamando o chefe de Estado do Vaticano de “comunista” (chavão ultrapassado).
Em resposta, a CNBB emitiu nota de repúdio e altos prelados da Igreja inseriram em suas homilias frases como “Pátria amada e não Pátria armada”; “Maria venceu o dragão, mas há outros para serem vencidos”; “um agente de Satanás desrespeitou a casa da Mãe de Jesus fazendo pregação política”. Bolsonaro esteve em Aparecida no Dia da Padroeira.