Vitória da Conquista sem futebol por um ano

Carlos González – jornalista
Sem a presença de Vitória da Conquista, cujo futebol acompanha a letargia dos governantes, políticos, setores produtivos e esportistas, o interior baiano se prepara para realizar a festa do campeonato estadual, que, provavelmente, será uma espécie de ensaio para os festejos juninos. Atlético, de Alagoinhas, Bahia, de Feira de Santana, Jacuipense, de Riachão do Jacuípe, e Barcelona, de Ilhéus, vão brigar por um “caneco” que sempre esteve nas galerias de Bahia e Vitória.
Na verdade, o Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista não vai estar totalmente ausente dessa festa dos seus companheiros interioranos. Ao Bode será dada a incumbência de carregar a lanterna que vai iluminar o salão de dança.
Conhecedor habitual das séries “C” e “D” do futebol brasileiro, o Vitória da Conquista não terá dificuldade em disputar a 2ª divisão do Campeonato Baiano de 2023, que só será iniciada dentro de aproximadamente um ano, o que significa fechamento do Estádio Lomanto Júnior, cujos operários só terão a obrigação de aparar a grama.
Em nota oficial divulgada em sua página na internet, a diretoria e os conselheiros do Conquista garantem que “o momento é de tristeza e dor”, e pedem desculpas aos torcedores, patrocinadores e apoiadores, “por não terem conseguido conquistar os objetivos traçados”. Em seguida, é óbvio, a nota se refere ao período de pandemia, o que provocou uma queda na receita, sem que o clube deixasse de honrar seus compromissos financeiros. Por fim, prometem ao conquistense voltar a fazer parte da elite do futebol baiano, onde se manteve por 17 anos seguidos.
A nota não se refere à dispensa de jogadores, o que sempre gera uma enxurrada de processos na Justiça do Trabalho, uma preocupação até para os grandes clubes do país, obrigados a se desfazer do seu patrimônio (o Santa Cruz, do Recife, está na iminência de perder seu estádio). Também não há nenhum indicativo a respeito da vigência dos contratos com os patrocinadores.
O futebol da terceira maior cidade do Estado – um dos seus filhos, Ednaldo Rodrigues, é o presidente da CBF -não pode continuar vivendo de migalhas, aliada à indiferença dos governantes. Exige um patrocinador de peso. Tenho uma sugestão: por que sua diretoria não procura o Homem de Verde (não se trata do Hulk), a cor predominante no uniforme do Conquista? Refiro-me ao bilionário catarinense Luciano Hang, que ultimamente vem colocando parte dos seus US$ 2,7 bilhões em cinco clubes de futebol, inclusive Vasco e Flamengo, além de investir no voleibol, natação e automobilismo.
A ajuda do Hang ao clube alviverde seria uma maneira dele retribuir ao conquistense o acolhimento recebido desde abril de 2018 quando aqui inaugurou uma das suas 160 lojas, sendo duas – a outra está em Barreiras – na Bahia.
Mesmo preservando o nome do município, o ECPP Vitória da Conquista é vítima de uma “doença” que bloqueia o crescimento da maioria dos clubes nordestinos: a falta de amor do torcedor local, sentimento que é transferido para os clubes cariocas, em especial ao Flamengo. O jornalista, dramaturgo e torcedor do Fluminense Nelson Rodrigues (1912-1980) chamaria esse apego ao que vem de fora de “complexo de vira-lata”, colocando o ser humano numa posição de inferioridade.