O fenômeno, econômico, social, psicanalítico e terminal do capitalismo e a “morte por desespero”
O fenômeno, econômico, social, psicanalítico e terminal do capitalismo e a “morte por desespero”

(Prof. Dirlei A Bonfim)*
Esse ensaio nasce a partir de algumas leituras, releituras, de autores e Obras que tratam da queda do império dos EUA, entre outros temas importantes que estão permeando a trágica situação em que está nesse momento aquela sociedade. A questão da “queda moral e ética” de Donald Trump e dos Estados Unidos, e suas implicações para a hegemonia americana, é complexa e multifacetada. Não há um consenso sobre se houve uma queda moral significativa ou se ela está relacionada à ascensão do trumpismo, nem sobre as consequências para a influência global dos EUA. O fato é que os EUA, estão certamente passando por um dos momento mais críticos da sua história contemporânea, a partir de leituras e releituras, inclusive muito recente do Livro de Jamil Chade “Tomara que você seja deportado”, em que, o jornalista faz uma análise política, social e econômica sobre a sociedade norte-americana e vai detectar muitas mazelas em que está inserida aquela sociedade nesse momento, certamente mais um elemento, propulsor da grande crise civilizatória, ética, social, política, econômica, psicanalítica, alienatória que tem provocado toda essa crise também do fenômeno social da “morte por desespero”. Enquanto o Senhor Trump, está a hostilizar os democratas, os servidores públicos, artistas, professores e intelectuais, no seu processo de terceirizar e privatizar tudo… começam a se rebelar contra os atos e ações do governo Trump. O movimento chamado de MEGA X ANTIFAS, e que está acontecendo nos (50) Estados norte-americanos, com cerca de 15 milhões de pessoas em todo o país, foram às ruas para protestar contra o atual governo. Agora, em meio a uma paralisação do governo federal e à tentativa de Trump de implantar tropas da Guarda Nacional em cidades americanas, milhões saíram para a segunda rodada de protestos. Uma Análise da “queda moral”: Trump e o trumpismo: O mandato de Trump, está sendo marcado por controvérsias, acusações de autoritarismo, polarização política e discurso divisivo. O trumpismo, movimento político associado a Trump, é visto por alguns como uma ameaça à democracia e aos valores tradicionais americanos. Impacto na imagem dos EUA: A eleição e o governo Trump tiveram um impacto negativo na imagem dos EUA no exterior, especialmente em relação à defesa da democracia e dos direitos humanos. A ascensão do nacionalismo e do populismo nos EUA, e em outros países, também contribuiu para essa percepção. Desafios à hegemonia: O declínio da influência americana é um tema debatido há décadas, e a ascensão de outras potências, como a China, Índia, Rússia, Brasil, o grupo de países denominados de Brics, é um fator importante. O governo Trump, com sua política “America First”, adotou uma postura mais isolacionista, o que pode ter acelerado esse declínio. A vida nos Estados Unidos – um dos países mais ricos da história mundial contemporânea – não tem motivo para estar assim. As intermináveis guerras, mortes por desespero, taxas de mortalidade em aumento e violência armada fora de controle deste país não surgiram do nada. Mas, estão vivenciando um momento muito difícil e complexo, com um governo e uma estrutura de poder Neofascista/Neoliberal, que impõe a toda sociedade, que alcance o sucesso a qualquer custo e, aqueles que não conseguem chegar ao topo… São perdedores fracassados, não servem para nada, a não ser para se matarem… Eis a chaga aberta, numa sociedade extremamente consumista de valores materiais, bastante arraigados, no poder de consumo de cada indivíduo, uma sociedade também marcada pela concorrência absurda, individualidade, competição, egoísmos, egocentrismos, ganância, futilidades e muito consumo. Dão conta, de uma sociedade profundamente adoecida, como aliás todas as pesquisas revelam um quadro chocante, agora escancarados com as “mortes por desespero”, em escala nacional, uma espécie de pandemia social, com sérias implicações na vida cotidiana daquela sociedade. Segundo o Professor Doutor Noam Chomsky (2025), aborda as raízes da cultura das armas, o militarismo, a estagnação econômica e a crescente desigualdade social nos Estados Unidos. Os EUA, são um país muito estranho. Do ponto de vista de sua infraestrutura, os Estados Unidos muitas vezes parecem um país do “Terceiro Mundo”… Não para todo mundo, claro. Há pessoas que dizem: “Bom, vale, irei em meu jato ou helicóptero particular”. Caminhe por qualquer cidade estadunidense. Estão caindo aos pedaços. A Sociedade Estadunidense de Engenheiros Civis confere aos Estados Unidos, periodicamente, um D – o ranking mais baixo – em infraestrutura. Este é o país, um dos mais ricos da história mundial. Possui enormes recursos. Tem vantagens que são simplesmente incomparáveis, recursos agrícolas, recursos minerais, um território enorme, homogêneo.
Por outro lado, é o único país no mundo desenvolvido em que a mortalidade, de fato, está aumentando. Isso é algo simplesmente desconhecido nas sociedades desenvolvidas. Um fenômeno da pós-modernidade. Nos últimos anos, a expectativa de vida caiu muito nos Estados Unidos. Há estudos de dois importantes economistas, Anne Case e Angus Deaton, que analisaram meticulosamente os números de mortalidade. Resulta que no grupo de idade aproximadamente entre 25 e 50, o grupo de idade trabalhista dos brancos, a classe trabalhadora branca, há um aumento das mortes, o que chamam de “mortes por desespero”: suicídio, overdoses por opiáceos, etc. Estima-se que cerca de 250.000 mortes ao ano, por tanto um índice altíssimo e alarmante. Segundo o Professor Doutor E. Giannetti (2025), diagnostica, que: os Estados Unidos: “É um país doente”. O país vive uma crise inédita de “mortes por desespero”, o que reduz a média de vida, sobretudo dos homens, com maior probabilidade de morrerem antes dos 50 anos”.
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O capitalismo não cobra só no nosso bolso, cobra na pele, no consumo, na cabeça e no vazio que se abre quando o futuro deixa de ser promessa e se converte em ameaça. Ele se introjeta diariamente em nossas subjetividades. Essa dimensão, tão sentida na militância e no cotidiano, é a que mais me importa. Amigos que caem, vidas esquecidas, biografias tristes diante das quais temos quase nenhum recurso para oferecer solidariedade. Porque não se trata de estatísticas sobre desemprego ou crescimento, mas da corrosão lenta da vida cotidiana, das marcas invisíveis que se acumulam até virar tragédia. Foi nesse terreno que o Professor Richard Sennett me ajudou a dar nome a algo que muitos já sentiam no corpo. Na obra, do fim dos anos (1990), Sennet falou em “corrosão do caráter”, não inventou uma metáfora elegante: registrou a experiência de um mundo em que a carreira com início, meio e fim desaparecia. O trabalhador passava a viver como peça descartável, sempre forçado a se adaptar, a se reinventar, a correr atrás de empregos fragmentados e instáveis. Essa flexibilidade, vendida como liberdade, deixava no lugar apenas ansiedade e desamparo. Há alguns dias tive o contato com uma resenha do livro “Deaths of Despair and the Future of Capitalism”, de Angus Deaton e Anne Case. Os dois Autores, trouxeram uma devastação, nas suas pesquisas científicas. Quem é o Professor Doutor Angus Deaton é um economista britânico, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em (2015), por sua análise sobre consumo, pobreza e bem-estar. Seu livro mais recente, coescrito com Professora Doutora Anne Case(2025), é “Morte por Desespero e o Futuro do Capitalismo” (Deaths of Despair and the Future of Capitalism), que analisa as causas e consequências do aumento de mortalidade por suicídio, overdose e alcoolismo nos Estados Unidos EUA, especialmente entre a classe trabalhadora branca, e critica o foco excessivo da economia em mercados e eficiência, negligenciando o bem-estar humano. Ao estudarem a onda de overdoses, suicídios e doenças ligadas ao álcool entre a população trabalhadora nos Estados Unidos, falaram em “mortes por desespero”. De novo, não se tratava de incompetência individual, como as bíblias liberais gostam de tratar, mas de uma resposta brutal ao colapso de perspectivas. Aquele que perde o trabalho estável, a possibilidade de sustentar a família, a confiança num amanhã melhor, muitas vezes perde também a própria vida, ou a vontade de viver, por se achar incapaz de contribuir e fazer parte de uma sociedade criada para os “vencedores”… Mais uma vez, aquele que não consegue ser bem sucedido nessa sociedade consumista, certamente quer se matar: o fenômeno da “morte por desespero”, é importante registrar que esse fenômeno está no mundo todo, contudo, está em crescimento brutal nos EUA e, colocando em cheque todo um processo histórico do chamado “sonho americano”, completamente frustrado, decepcionado esse indivíduo, não quer mais viver, porque os seus planos, sonhos, tudo acabou, tudo ruiu, restou apenas o desespero. A precarização do trabalho, a fragilidade dos serviços públicos e a dissolução dos vínculos comunitários abrem espaço para o vazio existencial e para a autodestruição. São duas faces de um mesmo processo: o capitalismo flexível mina tanto a identidade quanto o corpo, arranca o sentido da vida e o substitui pela insegurança permanente, pelo medo que o submete e aprisiona. Assim, estamos a descrever um fenômeno oriundo da pós-modernidade, dos excessos, do consumo, álcool, drogas e consumismo. Trata-se de um fenômeno estrutural, que atravessa fronteiras, se inscreve no cotidiano de milhões no mundo todo e pode ser afirmado como um fenômeno interclasses, que afeta diretamente a saúde mental, psicológica, psicanalítica e física do sujeito humano, no processo de desumanização e morte dos sujeitos.
**contribuição do Professor DsC. Dirlêi A Bonfim, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Ambiental, Professor de Sociologia da SEC/BA**E no Curso/Plano de Formação Continuada SEC/IAT/BA.**10/2025.**