Tenório Jr., músico brasileiro morto pela ditadura argentina, é homenageado pelo BNDES no Rio

Ato com Gilberto Gil e Caetano Veloso celebrou a memória do pianista desaparecido em 1976
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) realizou nesta quarta-feira (1º) um ato cultural em homenagem ao pianista Francisco Tenório Jr., sequestrado e morto em 1976 durante a ditadura militar argentina. A celebração, coordenada por Gilberto Gil, reuniu nomes consagrados da música brasileira como Caetano Veloso, Joyce Moreno e Marcos Valle.
Segundo a Agência Brasil, a cerimônia marcou o reconhecimento oficial da identidade do músico, confirmada em setembro pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) por meio de exames de impressões digitais. Tenório Jr., conhecido como Tenorinho, desapareceu em Buenos Aires após sair de seu hotel para comprar cigarros e remédios, em plena turnê com Vinícius de Moraes e Toquinho.
Trajetória interrompida pela violência
Carioca de Laranjeiras, Tenório Jr. foi um dos grandes nomes do samba-jazz e da bossa nova, colaborando com artistas como Gal Costa, Milton Nascimento e Vinícius de Moraes. Seu desaparecimento, no auge da carreira, tornou-se símbolo das violações cometidas pela Operação Condor, aliança repressiva entre regimes militares da América do Sul.
Em 1976, o músico foi sequestrado, torturado e executado a tiros. Dois dias depois, foi enterrado como indigente no cemitério de Benavídez, em Buenos Aires. Apenas quase cinco décadas depois sua identidade foi oficialmente confirmada.
Memória, verdade e justiça
O perito Lucas Guanini, da equipe de Antropologia Forense argentina, destacou a importância do trabalho iniciado em 1984 para dar respostas às famílias de desaparecidos políticos. “Nossa finalidade é dar às famílias respostas sobre o que aconteceu aos seus entes queridos”, afirmou. Segundo ele, a comunicação imediata com familiares após a identificação é essencial para a preservação da memória.
O evento no BNDES contou ainda com a presença de familiares de Tenório Jr., além de representantes de movimentos históricos de direitos humanos, como as Mães da Praça de Maio, da Argentina, e a Marcha do Silêncio, do Uruguai.
A luta das Mães da Praça de Maio
Helena Molinaro, representante das Mães da Praça de Maio, emocionou o público ao relembrar a resistência do grupo formado em 1977. “Nós tínhamos de lutar por todas as vítimas da ditadura por culpa de um governo cruel. Um governo que se transformou. Tínhamos que ser fortes para continuar com a luta. A única luta que se perde é a que se abandona”, declarou.
O movimento, símbolo da resistência argentina, nasceu quando 14 mulheres começaram a se reunir em frente à Casa Rosada, exigindo respostas sobre o paradeiro de seus filhos. O uso de lenços brancos na cabeça tornou-se marca internacional da luta contra os desaparecimentos forçados.
Homenagem no Rio
No palco, Gilberto Gil coordenou as apresentações musicais que deram tom de emoção à cerimônia. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, fez a abertura oficial e ressaltou o papel do banco no apoio à preservação da memória histórica.
A homenagem a Francisco Tenório Jr. não foi apenas um tributo a um talento perdido precocemente, mas também um ato de afirmação do compromisso com a verdade histórica e a justiça para as vítimas das ditaduras do Cone Sul.