Produção de leite no Nordeste: lições a se falar

POR CARLOS ALENCAR
Nesse meu primeiro artigo, não poderia deixar de falar um pouco sobre o Nordeste. Sabendo que o nosso foco será nutrição, muitas pessoas irão falar que o nosso maior desafio enquanto Nordeste é a tão fadada seca, que sempre estará presente, e está de certa forma, já enraizada no planejamento do produtor de leite da região. A tamanha dificuldade gerada por ela em relação a produção de volumosos, está quase que precificada nos custos dos nossos sistemas de produção de leite.
Conhecendo a região e principalmente olhando o cenário da produção de leite, temos que entender a diversidade de situações. Atualmente no Nordeste, diferente do que muitos pensam olhando as mais bonitas praias que temos por aqui, nossa produção de leite se enraizou em regiões que podemos chamar em alguns estados de Agreste e outros estados de Sertão. Regiões essas que possuem uma característica bem clara, índices pluviométricos entre 500 a 800 mm. Algumas regiões possuem como característica, a concentração da estação chuvosa durante 3 a 4 meses do ano, ou seja, aproximadamente 8 meses de seca, gerando maior dificuldade para o sistema de produção de leite na nossa região sem um planejamento bem feito.
Sabendo que temos uma concentração muito grande dos períodos de chuvas, um fator muito importante para a produção é o planejamento da produção de volumoso, já que a logística para isso terá que caber dentro da realidade de chuvas da nossa região.
Quando olhamos regiões como o Ceará e suas bacias leiteiras que crescem dois dígitos ao ano, temos a predominância e o foco em produzir silagens, uma técnica milenar que ao longo das últimas décadas vem sendo bastante utilizada na região. A planta mais utilizada para a conservação de volumoso é de fato o sorgo, mas o milho também possui certa relevância e menor grau, o milheto.
Em algumas regiões do Ceará e do Piauí, áreas de pasto irrigado também se mostram sólidas, ganhando destaque em regiões em que a irrigação é possível. Capins do gênero Panicum (Mombaça, Tanzânia e Massai) se destacam dentre outros e se apoiam no principal fator positivo da nossa região que são os altos índices de luminosidade, fato que ocorre devido a nossa latitude e a proximidade com a Linha do Equador. Nessas condições, índices de produtividade de 50kg a 60 kg ou até 70 a 80 kg de matéria seca ano são plenamente possíveis.
Indo para outras regiões, nos estados de Pernambuco e Alagoas, com seus Agrestes, a cultura que se alicerçou foi a palma, caracterizada por muitos como volumoso. Porém, diferente da maioria das espécies destinadas para a produção de volumosos que fazem parte da família das gramíneas, a palma faz parte da família Cactaceae. Nessa região encontramos produtividades confortáveis de 300 toneladas de matéria natural, mas existem relatos bem consolidados de até 800 toneladas, possibilitando ter um alimento que possui em sua composição de 80% a 90% de água, fator limitante da região, além da pectina, carboidrato de alta digestibilidade para formulação em dietas.
Pequeno em território, mas grande na adoção de tecnologia, o destaque também vai para o estado do Sergipe, evidenciado pelo crescimento na produção de milho tanto para grão como para silagens. No estado, também podemos ver o surgimento de várias instalações de Compost Barn, tornando ainda mais clara a definição do estado como agregador de tecnologia e pujante em crescimento da produção leiteira.
E o que falar da Bahia… no estado, há regiões em que o pasto se desenvolveu muito bem, inclusive o estado conta com alguns produtores no Top 100 2024, com sistema a base de pastagens. Há também regiões do sertão baiano que focaram muito na produção baseadas em palma, como Capim Grosso, Ribeira do Pombal e Senhor do Bonfim. Assim como, outras regiões no sul do estado que margeiam o Rio São Francisco, focaram na produção de silagens, como as regiões de Guanambi até Malhada, mostrando a força desse estado gigantesco e muito produtivo.
Quando falamos do Nordeste a lição principal que podemos falar para o Brasil é que a seca existe sim, porém, conforme evidenciado pelos dados do MilkPoint, a região Nordeste tem apresentado um crescimento significativo nas últimas décadas, destacando-se como um exemplo. A região Nordeste vem ensinando uma lição importantíssima ao Brasil: a resiliência.