Não muito a comemorar no dia municipal da cultura e da poesia

No Dia Municipal da Cultura de Vitória da Conquista, instituído em 2006 pela lei 1367, em homenagem ao nascimento do cineasta Glauber Rocha (1939- 1981), não temos muito a comemorar, a não ser algumas atividades pontuais, como no Natal, no São João e alguns editais que beneficiaram artistas durante o período da pandemia.
Aliás, nem houve atos comemorativos por parte do poder público e nem a nossa mídia noticiou a data, com raras exceções. Entendo que os artistas em geral em suas diversas linguagens e manifestações, os intelectuais e os fazedores de cultura também comungam comigo dessa mesma visão crítica, principalmente se for levar em conta o porte da nossa cidade, a terceira maior da Bahia com mais de 340 mil habitantes. Não devemos nos contentar com o pouco.
Não temos muito a comemorar quando três equipamentos importantes, como o Teatro Carlos Jheovah, o Cine Madrigal e a própria Casa Glauber Rocha, na rua Dois de Julho, continuam fechados por falta de reformas, embora o nosso secretário Xangai, da Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer-Sectel tenha ido nesta data (14 de março) a Brasília conversar com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, sobre essas questões e outras.
Espero que tenha levado em sua pasta os projetos de custos para reformar essas casas e transformá-las em centros culturais de arenas para apresentações de eventos e espetáculos nas áreas da música, do teatro, da dança, da literatura, do cinema, do audiovisual e das artes plásticas, dentre outras expressões. Torço para que as coisas aconteçam e tenhamos uma cultura pungente que lembrem as efervescências de outrora.
Não temos muito a comemorar quando não temos um Plano Municipal de Cultura que contemple durante todos os anos a promoção de festivais de músicas com premiações, feiras literárias, salões de artes plásticas, seminários, encontros e recursos suficientes para apoiar e ajudar os artistas a concretizarem seus projetos.
É verdade que muitos grupos e pessoas, individualmente, vêm fazendo cultura em Conquista por iniciativa própria, mesmo com sérias dificuldades, mas o poder público, tanto o executivo como o legislativo, tem a obrigação de chegar mais. É aquela velha história de nunca se ter dinheiro para a cultura, mas não falta para outras que rendem votos eleitorais.
Não temos muito a comemorar quando a classe em geral não se une para se mobilizar, se organizar profissionalmente e cobrar mais ações do executivo. Falo de provocar, de agir, de todos chegarem juntos e não apenas ficarem na posição confortável da crítica e só pensarem em si. A maioria se contenta com o pouco e se isola. Nada se consegue nada sem brigar, sem lutar.
DIA DA POESIA
Quatorze de março é também dedicado ao Dia Nacional da Poesia em comemoração ao nascimento de Castro Alves (1847-1871), poeta condoreiro que, com seus poemas, que brotavam do fundo da sua alma, condenava a escravidão e as injustiças sociais. Era também um condoreiro romântico e até lírico. Ele transbordava sua dor. Seu lamento era como o tinir do facão no cascalho da pedra ou na terra estorricada do sertão.
Também diria que não temos muito a comemorar quando ainda em pleno século XXI temos um Brasil atrasado culturalmente pela falta de educação de qualidade e, que por isso, não valoriza a poesia, especialmente a nossa juventude que passa o dia agarrada num celular, engrossando os milhões de seguidores desses canais bestiais, fúteis, inúteis e imorais.
Infelizmente, não temos muito a comemorar quando a grande maioria dos nossos jovens ainda confunde um Manuel Bandeira, um Castro Alves, um Drummond, João Cabral de Melo Neto, uma Cecília Meireles, uma Cora Coralina, um Patativa do Assaré, um Zé Dantas, Humberto Teixeira e tantos outros como jogadores de futebol ou até cantores de funk. Só os abnegados e teimosos ainda resistem fazendo poesia, para ouvir das pessoas que ninguém ler isso.