Manoel Fiel Filho …, Presente
Há poucos dias, em espaço dos blogs respectivamente de Anderson e Paulo Nunes e por gentileza desses, publiquei texto sob título – Choram Marias e Clarisses, em memória de Vladimir Herzog, Vlado, cujo assassinato em dependências militares completará cinquenta anos no próximo sábado (25.10.25).
Agora lembro a pessoa de Manoel Fiel Filho assassinado pela ditadura militar em circunstâncias semelhantes àquele trucidamento de Vlado.
Manoel Fiel Filho, nascido em 7 de janeiro de 1927, na cidade de Quebrângulo, Estado de Alagoas, filho de Manoel Fiel de Lima e Margarida Maria de Lima, como muitíssimos nordestinos, migrou para São Paulo, em busca de educação e emprego. Trabalhou em algumas empresas.
Em 1976, já trabalhava, na profissão de Metalúrgico, na empresa Metal Arte.
Em 16 de janeiro de 1976 (poucos meses após o assassinato de Vlado), Manoel Fiel foi preso às 12:00h, na fábrica onde trabalhava, por agentes do DOI-CODI e conduzido à sua casa, que esses vasculharam sob olhar temeroso de sua esposa, Thereza de Lourdes Martins Fiel, e filhas. Depois foi levado para o DOI-CODI do 2º Exército (São Paulo), onde foi torturado no pau-de-arara, com socos, choques elétricos, e outros meios usuais no tempo da bestialidade que humilhava o Brasil. Com torturas, foi assassinado.
No dia seguinte, 17 de janeiro, veio a nota cínica do DOI-CODI: “O comando II Exército lamenta informar que foi encontrado morto, às 13h do dia 17 do corrente, sábado, em um dos xadrezes do DOl-CODI II Exército, o Sr. Manoel Fiel Filho. Para apurar o ocorrido, mandou instaurar Inquérito Policial – Militar; tendo sido nomeado o coronel de Infantaria do Quadro do Estado- Maior da Ativa (Quema) Murilo Fernando Alexander, Chefe do Estado- Maior da 2º Divisão de Exército”.
No mesmo dia (17.01), às 22:00h, agente que não se identificou parou em frente à residência do operário assassinado e, dirigindo-se à esposa desse, gritou: “O Manoel suicidou-se. Aqui estão suas roupas” e lançou
sobre a calçada um saco plástico com as roupas do operário trucidado pelos agentes militares do Estado.
Como em outras farsas, o Inquérito para apurar a morte de Manoel Fiel
Filho concluiu que “as provas apuradas são suficientes e robustas para nos convencer da hipótese de suicídio de Manoel Fiel Filho” e, com isso o procurador militar, Darcy de Araujo Rabello, pediu o arquivamento do Inquérito.
A prisão de Manoel Fiel Filho decorreu do fato de haver recebido de uma pessoa exemplar do jornal clandestino Voz Operária.
Esse “crime” valeu-lhe a morte.
Assim agia a ditadura militar, de que alguns, às portas de quarteis e tiros de guerra, queriam o restabelecimento.
