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A Encruzilhada do PT em Vitória da Conquista: Resgate da Base e o Futuro que Queremos Por Marcelo Neves, Chapa O Levante das Catrevagens
Companheiras e companheiros de luta,
É com a convicção de quem vive e respira a história do nosso Partido dos Trabalhadores há décadas que manifesto neste momento crucial para o futuro do PT em Vitória da Conquista, minha indignação inicial, lastreada numa análise temporal, seguida de intenções e de proposituras.
Evidenciar a candidatura de Gustavo Costa à presidência do partido em nosso município, não por um mero alinhamento de nomes, mas por compartilhar a profunda preocupação com os rumos que o PT tem tomado e a necessidade de um retorno às nossas origens, é urgente. A juventude precisa de sonhos, precisa de utopia. Precisa acreditar que ela tem lugar fora dos condomínios de poder que dirigiram o Partido na última década.
Nos últimos anos, temos assistido a um processo doloroso de encolhimento da nossa representação no legislativo municipal. De forma contundente, as escolhas do PT local, pautadas em políticas de alianças e na federação partidária, não apenas falharam em nos fortalecer, como nos distanciaram da nossa essência. As cadeiras perdidas na Câmara Municipal não são apenas números; elas representam a perda de voz e espaço para as demandas populares que sempre foram a razão de ser do nosso partido.
Da mesma forma, a amarga sequência de três derrotas consecutivas para o executivo municipal é um sintoma claro de que algo fundamental se perdeu no caminho. Não podemos mais ignorar o elefante na sala: a opção pela militância profissional remunerada em períodos de campanha eleitoral, em detrimento da histórica construção de base com movimentos populares tem sido um erro crasso. O PT de Vitória da Conquista sempre foi sinônimo de povo nas ruas, de organização de base, de um partido pulsante que nascia das discussões nas associações de bairros, nos sindicatos, nas comunidades.
Essa força orgânica, construída com suor e engajamento voluntário, foi substituída por uma lógica de aluguel de apoios que esvaziou nossa capacidade de mobilização e, o que é mais grave, nos desconectou da realidade da nossa gente.
Muito embora possa apresentar resultados efêmeros, essa profissionalização nunca substituirá a paixão, a convicção e o compromisso de quem acredita verdadeiramente em um projeto de transformação social. E é essa paixão que move o “Levante das Catrevagens”, que se recusa a aceitar a apatia e a resignação, mas se levantar de fato contra a tese do consenso da hegemonia e da acomodação de grupos de interesse. É hora de um resgate.
Resgatar a mística do PT, a ousadia de debater de igual para igual com a base, a humildade de ouvir os anseios das comunidades.
Precisamos reconstruir as pontes que nos ligavam aos movimentos sociais, aos trabalhadores, aos estudantes, aos pequenos agricultores.
Por seu turno, a federação partidária e as alianças são instrumentos que podem e devem ser utilizados, mas nunca podem se sobrepor à nossa identidade e aos nossos princípios. Para ser coerente com as nossas posturas, defendemos a federação no momento histórico mais sombrio da história do país, no ano de 2022. Entretanto, elas não podem ser um fim em si mesmas, mas sim um meio para fortalecer um projeto que parte do povo. Hoje não cabe mais.
A candidatura do jovem militante de 25 anos, estudante de geografia da UESB Gustavo Costa à presidência do PT em Vitória da Conquista representa a crença inabalável de que é possível reverter esse quadro. Ele personifica a coragem e a ousadia da juventude sem amarras a grupos mandatários como no passado recente do partido, a coragem de confrontar o que não deu certo e a visão de um partido que volta a se nutrir das suas raízes populares. Um partido que entende que a verdadeira força emana da organização de base, da formação política, do debate franco e democrático.
O caminho de quem luta é árduo, e passa necessariamente pela reconstrução do nosso tecido social, pela valorização da militância engajada e pelo retorno à vocação do PT: ser a voz dos que mais precisam.
É tempo de mudança. É tempo de um novo “Levante” dos invisíveis. Daqueles e daquelas que anseiam por um PT forte, combativo e, acima de tudo, popular.
Marcelo Neves é professor da Universidade do Estado da Bahia – UNEB e membro do Movimento Coletivo Ética Socialista – MCOESO.
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A matéria do professor Marcelo Neves sobre a urgente reconstrução do tecido social brasileiro e a reaproximação do Partido dos Trabalhadores com sua base popular não apenas acerta o diagnóstico: ela cumpre uma função histórica. Num momento em que o PT corre o risco de se tornar uma engrenagem meramente institucional, afastada das ruas e das contradições vivas da classe trabalhadora, Marcelo nos convoca à retomada do que o partido tem de mais nobre: ser instrumento de luta dos de baixo contra os de cima.
Ao afirmar que é tempo de um novo “levante dos invisíveis”, o professor Neves evoca o chamado revolucionário que há tempos ecoa dos becos, das periferias, das ocupações, das favelas e dos terreiros. Sua crítica parte de um lugar profundamente marxista: a convicção de que a política de conciliação de classes chegou ao seu esgotamento histórico, e que é hora de retomar o projeto socialista como horizonte estratégico de reorganização da vida.
É nesse cenário que emerge, com enorme potência, a candidatura de Gustavo Costa (Guga) pela chapa “O Levante das Catrevagena” — expressão orgânica dessa indignação coletiva que transborda dos que nunca tiveram vez nem voz. A chapa, composta por militantes negros, LGBTQIA+, jovens, mulheres, educadores populares, catadores e artistas de rua, não é apenas um agrupamento interno: é a materialização da luta de classes dentro do próprio PT.
A palavra “catrevagena”, como bem lembrado pelo texto de Neves, carrega a força simbólica de uma reapropriação. Aquilo que antes era xingamento vira bandeira de guerra. O que era ofensa se transforma em identidade insurgente. É a mais pura tática do oprimido: transformar a dor em ferramenta, o lixo em semente, a humilhação em revolução. E é essa virada que torna a candidatura de Guga um acontecimento político da maior importância.
Mais do que uma alternativa eleitoral, “O Levante das Catrevagena” propõe um novo ciclo de organização política no interior do PT, recolocando o partido a serviço da transformação radical da sociedade. Com base nos princípios do socialismo democrático, do feminismo popular, do combate ao racismo estrutural e da autonomia dos movimentos sociais, a chapa recupera o sentido revolucionário da militância petista, forjada na greve, no mutirão, na escola da roça, no chão da fábrica e no tambor da periferia.
A matéria de Marcelo Neves cumpre, assim, um papel pedagógico e militante. Ela revela, com a clareza de quem conhece as estruturas e com a paixão de quem não abriu mão da utopia, que ainda há força nos ventos da história. E que o PT, se quiser continuar sendo o partido da esperança, precisa ouvir — e seguir — o levante dos catrevagena.
Como marxistas, sabemos que nenhuma mudança virá do alto. É dos porões e vielas que surgem os sopros de liberdade. E é na rebeldia organizada da juventude preta, feminista, periférica e socialista que reconhecemos a centelha da revolução que há de vir.