Raul Ferraz
Raul Ferraz, falecido ontem, 29.10.2025, ex-prefeito de Vitória da Conquista, nasceu em Conquista (anterior nome do município e sua sede), em 13.10.1935. Seus pais descendem de famílias que se fixaram em terras da Imperial Vila da Vitória no século XIX: Ferraz e Andrade.
Filho de Raul Lopes Ferraz e Angélica Andrade Ferraz, Raul Carlos de Andrade Ferraz começou cedo frequentar a Escola Barão de Macaúbas, local onde hoje está o Fórum João Mangabeira, antiga Praça Alegre; depois, transpondo o Exame de Admissão, estudou as duas primeiras séries do curso ginasial no Ginásio de Conquista, fundado e dirigido pelo Padre Luís Soares Palmeira, mas completou o ginasial em Aracaju, Sergipe, no colégio Salesiano. Seu curso colegial (ensino médio) foi prestado no Colégio da Bahia (“central”, como era conhecido), cursou Ciências Jurídicas e Sociais na faculdade de Direito de UFBA e, formado, em 1962, retornou à cidade natal, para exercer a profissão de advogado.
Em 1965 Raul Ferraz casou com a professora Maria Celia Mascarenhas Ferraz, com qual teve os filhos Raul Daniel, Valéria, Marilia e Ana Carolina.
Além de advogado, Raul foi produtor rural e por pouco tempo explorou transporte urbano coletivo de passageiros
Desde a época estudantil atuou politicamente. Encontrou o Colégio Central em grande atividade. A UNE e a UEB eram ativas, assim como a frente estudantil do PCB e da JEC, e Raul optou pela Esquerda, disputando cargo a diretório. Continuou na atuação política na Faculdade de Direito e, ainda no 5° ano do curso, foi candidato a vereador, por V. Conquista, nas eleições de 1962, obtendo a 1ª suplência, vindo a ocupar por vezes a vereança.
Raul Ferraz foi um dos muitos conquistenses presos em 1964 (13.5.) pelo capitão Antonio Bendochi Alves, que para Conquista foi designado, com a finalidade repressora da ditadura militar, para realizar um Inquérito Policial Militar e destituir o Prefeito José Fernandes Pedral Sampaio do seu cargo. Liberado cerca de 30 dias após a prisão e de haver prestado depoimento, Raul continuou sua vida política. Em 1966 foi candidato a Deputado Estadual pelo MDB, não conseguindo eleger-se;
em 1970 participou da campanha eleitoral de Jadiel Matos a Prefeito Municipal (não eleito) e, em 1972, foi candidato a Prefeito, juntamente com Jadiel Matos e Gilberto Quadros (na época, cada partido – ARENA e MDB – podia ter até 3 candidatos por suas sublegendas), Jadiel foi eleito. Em 1976, candidato a Prefeito, juntamente com Sebastião Castro, ambos pelo MDB, a vitória de Raul foi obtida com expressiva diferença de votos em relação ao segundo colocado, Sebastião Castro. A campanha marcou divisão da oposição conquistense: José Pedral e Raul Ferraz, de um lado, e Jadiel Matos e Sebastião Castro, de outro, com respectivos correlegionários.
Em 1982, Raul Ferraz foi eleito Deputado Federal, depois reeleito, tendo sido um dos constituintes de 1988. Como Deputado constituinte, o DIAP- Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, o caracterizou da seguinte maneira: “com forte conotação Nacionalista, atuou com o bloco nacionalista na constituinte. Votou a favor da empresa nacional, da nacionalização do subsolo, do tabelamento de juros e do direito de voto aos 16 anos. Em seu mandato anterior foi coordenador da bancada do PMDB baiano. Definiu suas posições políticas como de centro-esquerda, tendo um desempenho liberal reformista”.
Na condição de Prefeito, Raul Ferraz deixou realizações de importância, dentre as quais: Edificação da estrutura, aquisição, e colocação, da escultura do Cristo (Cristo da Serra, de Mário Cravo), projeto e início do viaduto ligando a praça Sá Barreto ao bairro Guarani, complementada pelo Estado da Bahia; criação da EMURC, construção do Ginásio de Esporte (que teve o seu nome, porém retirado com a proibição de nome de pessoas vivas em bens públicos), que pode voltar a ostentar o nome Raul Ferraz, merecidamente.
Tentou, após mandatos de Deputado Federal e um tempo sem mandato, ser vereador por Vitória da Conquista. Não se empenhou bastante na campanha e não foi eleito.
Raul era pessoa de conversa agradável e, além de trabalho escrito na área de história e de política, na década de 1980 escreveu alguns
causos engraçados no jornal Tribuna do Café. Espirituoso, deixava as pessoas a rir com suas tiradas. Em certo dia chuvoso de
outubro, ele, Prefeito Municipal, dirigia lentamente seu automóvel na Rua Ascendino Melo, totalmente tomada pela enxurrada, e do passeio, sob uma marquise, uma pessoa gritou-lhe, apontando a água: Dr. Raul, precisa tomar uma providência nisso. O Prefeito não teve dúvida em responder: estou indo à Prefeitura para fazer um decreto que proíba água de descer ladeira. Não fez o decreto e agora não o fará.
