Forças de segurança revelam bastidores da guerra contra o crime organizado no Brasil
Autoridades do Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso do Sul destacam, durante o COP Internacional, como a interoperabilidade entre polícias tem fortalecido o enfrentamento a facções e ao tráfico em todo o país.
O avanço do crime organizado e a necessidade de integração operacional entre as forças de segurança foram os principais temas do painel “Interoperabilidade entre as forças de segurança no combate ao crime organizado”, realizado na última sexta-feira durante o Congresso de Operações Policiais – COP Internacional. O debate reuniu o Secretário de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Felipe Curi, o Comandante-Geral da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, Coronel Renato dos Anjos, e o Chefe de Gabinete da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Coronel Cássio Araújo de Freitas, que compartilharam experiências sobre como a integração entre instituições tem se mostrado decisiva no enfrentamento às organizações criminosas.
Dr. Felipe Curi apresentou o cenário fluminense, marcado pela complexidade territorial e pela presença de múltiplas facções e grupos milicianos. Segundo ele, o domínio territorial e a exploração econômica das comunidades tornaram-se a principal fonte de receita dessas organizações. “Nos últimos anos, a realidade mudou. Hoje, a venda de drogas representa apenas 10% a 15% da atividade das facções. O que sustenta o crime é o controle sobre serviços como energia, transporte e construções irregulares. Território é sinônimo de receita”, afirmou.
O secretário destacou ainda a atuação integrada da Polícia Civil com outras forças, incluindo Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e Ministério da Justiça, através de comitês como o CIFRA (Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos) e a FICCO-RJ (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), além de operações conjuntas diárias em áreas críticas como os complexos do Alemão e da Penha. Curi defendeu que “o combate realizado no Rio de Janeiro não encontra paralelo no mundo, pois vivemos uma situação de guerra sob uma legislação desconectada dessa realidade. É preciso tratar esses criminosos como terroristas”.
Do Mato Grosso do Sul, o Coronel Renato dos Anjos enfatizou a posição estratégica do estado na rota do tráfico internacional, funcionando como corredor logístico entre Paraguai, Bolívia e o restante do país. “Não produzimos drogas nem armas, mas tudo passa por aqui. O trabalho integrado é essencial para o controle dessa fronteira”, disse. Ele lembrou que a integração entre as forças no estado remonta à década de 1980 e hoje se materializa na atuação conjunta entre o Departamento de Operações de Fronteira (PM) e a Delegacia de Fronteira (PC), que compartilham instalações e inteligência operacional. “Mesmo com um efetivo reduzido, o trabalho articulado entre polícias estaduais e federais tem sido fundamental no enfrentamento aos crimes de tráfico, contrabando e descaminho”, completou.
Encerrando o painel, o Coronel Cássio Araújo de Freitas, de São Paulo, destacou que o país vive um dos cenários mais desafiadores do mundo para a operação policial, e que a interoperabilidade é o caminho para resultados consistentes. “As instituições hoje estão muito mais integradas. Avançamos para sistemas e métodos conjuntos que potencializam resultados. O crime é organizado, e a resposta do Estado precisa ser igualmente estruturada”, afirmou.
Segundo o oficial, o trabalho integrado permitiu triplicar as apreensões de armas e drogas em regiões estratégicas como a Baixada Santista. Ele alertou ainda para a necessidade de combater os alicerces do crime organizado – economia ilícita, domínio territorial e cultura criminal – sob pena de o país conviver com um fenômeno de aproximação entre o crime e o terrorismo. “O crime organizado é a maior doença do país. Se não formos nós a enfrentá-lo, quem será?”, argumentou.
Questionado se o Brasil tá preparado para fazer da interoperabilidade um padrão, o Coronel confirmou, porém alertou que oscilações governamentais não podem virar obstáculo para que isso aconteça. “O tema segurança pública atingiu o inconsciente coletivo, tanto que quem não falava sobre isso, agora fala. Mas não podemos permitir que isso seja apenas uma onda passageira, é o momento das instituições assinarem convênios, construírem estruturas necessárias para que se tenha sempre integração”, concluiu.
Sobre o COP Internacional:
A 5ª edição do Congresso de Operações Policiais – COP Internacional está sendo considerada a maior edição do evento, oferecendo mais de 44 horas de programação. Até a abertura do evento, mais de 15 mil congressistas foram credenciados, 84 expositores, 15 delegações, 88 palestrantes e participantes de 08 diferentes países (Turquia, Suécia, Israel, Áustria, Estônia, Estados Unidos, França e Brasil).
